quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

No mar, de Toine Heijmans

“Aprendi que o mar é previsível. Ainda mais previsível que a terra firme, onde se pode cruzar com todo tipo de gente e coisas que não se espera.” (HEIJMANS, 2015, p. 55).

Às vezes parece que grande maioria do que se lê hoje em dia ou é nacional ou é norte-americano. Claro que há diversos fatores para isso, mas ainda assim isso muito me soa um pouco limitador. Mesmo com o reconhecimento de grandes clássicos de outros lugares do mundo, autores de outras nacionalidades ainda não possuem tanto destaque, me parece. Ou talvez apenas eu não note isso. Mas destaque não quer dizer que não cheguem até o Brasil, com tradução para o português. Chegam, e isso é lindo (💙). É muito bom ver que existem bons escritores em todo canto do mundo, o que me faz ter vontade de ler cada vez mais essas literaturas de diferentes nacionalidades  talvez apareça algo relacionado a isso por aqui futuramente. Nisso, achei muito curioso quando reparei que um dos livros que ganhei é de Literatura Holandesa; me surpreendeu muito! A obra em questão, No Mar, foi escrita por Toine Heijmans, e recebeu uma edição maravilhosa pela Cosac Naify; capa linda, não? São poucas páginas, menos de duzentas, e a leitura é rápida. Achei a obra tão curiosa que resolvi comentar um pouco sobre ela por aqui; isso porque Heijmans conseguiu criar um personagem que vai ficando cada vez mais nítido na mente do leitor, e, conforme a leitura vai avançando, percebe-se um clima tenso e uma reviravolta mais ao final do livro que é simplesmente de nos fazer respirar fundo para não pensar demais.




Em suas 160 páginas, a obra mostra-se incrivelmente repleta de questões pertinentes, tanto que não me sinto capaz de comentar sobre todas. Dito isso, tentarei comentar, brevemente, dois pontos que aparecem: a relação do mar com o trabalho/sociedade; e a relação de pai e filha. Primeiramente, é necessário ver que a história não é linear, fazendo uma espécie de ziguezague durante o tempo em que o protagonista está em seu período "sabático". O que se sabe é que ele, protagonista e narrador, recebeu uma espécie de férias de três meses, nas quais decidiu fazer uma viagem com seu veleiro Ishmael – isso é referência a Moby Dick, livro que, aliás, estou cada vez mais curiosa para ler –, sendo que ele tinha esse imenso desejo de passar um longo tempo no mar, longe de tudo e de todos. Atrevo-me a dizer que o mar pode ser, de certo modo, seu refúgio. Além disso, nos últimos dias de sua viagem, já no seu retorno a terra firme, a sua casa, passou a ter a companhia de sua pequena filha Maria – ele explica como conseguiu que ela o acompanhasse e tudo o mais. Além dos dois, há ainda uma outra personagem importante para a história: Hagar, a mãe de Maria e esposa do protagonista – cujo nome, aliás, não é dito em boa parte da trama. A obra se intercala entre momentos passados no mar e as memórias do narrador sobre a terra firme; em que, frequentemente, ele tece comentários de que tenta ser um bom pai, numa tentativa de mostrar a Hagar que ele consegue, sim, ser uma boa pessoa. Admito que por algumas páginas até me questionei se eles eram separados e se, no caso, esses comentários fossem de que ele merecia, sim, passar tempo com sua filha; mas isso foi apenas impressão.

“‘Crianças muitas vezes são tratadas exageradamente como crianças’, asseverei a Hagar quando discutíamos sobre a viagem.” (HEIJMANS, 2015, p. 49).

Em algumas partes, principalmente no que se referia aos papéis de pais e mães – à questão de paternidade e maternidade –, não pude deixar de lembrar de muitas questões sociais atuais, que envolvem a construção histórica-social do sujeito. Obviamente, não se pode negar que as mães, de certo modo, generalizando, passam um tempo maior com os filhos nos primeiros meses, devido à amamentação e tudo o mais; mas é interessante pensar que há uma distinção muito grande entre o papel de um pai e o de uma mãe. O protagonista mostra isso e, inclusive, dá seus argumentos para tal visão, como o fato da criança estar em contato com a mãe desde antes de nascer, de ouvir seus batimentos cardíacos etc. Todos seus argumentos parecem levar a uma visão de que é "natural" essa distância que parece haver entre ele e sua filha, distância que parece não existir com a mãe, e isso parece apontar a necessidade de ele mostrar ser um bom pai e que pode fazer Maria se divertir numa viagem no veleiro com ele.



A partir das falas e dos pensamentos do narrador, pode-se ver um homem abatido pela vida no trabalho 
– que está na mesma empresa há anos e não é promovido; o que lhe dá certo amargor –, que não vê mudança, não vê um progresso; quase como se esse fato o oprimisse, exercesse uma pressão estressante sobre ele. A situação na empresa em que ele trabalha, em que os mais jovens andam recebendo destaque, parece-me uma crítica à seleção e/ou à promoção de funcionários, ao que se exige dos trabalhadores, sendo que por vezes se deveria considerar a dedicação e o tempo gasto com a empresa; mas tudo também tem que englobar o desempenho do funcionário, e, parece, contudo, que o protagonista não se fazia perceber, como se ele fosse "invisível", aguardando a oportunidade em que poderia se fazer presente, mas nunca a vendo aparecer. Logo, pode-se dizer que seu refúgio para tudo virou o mar. O narrador, então, demonstra ser um homem que, aparentemente, possui uma raiva contida, como que faltando certo amadurecimento e necessitando comprová-lo por meio desse passeio com a filha; o fracasso do passeio seria seu fracasso.

“Comecei a comparar a vida na empresa com a vida no barco. Você se concentra no que vê. No que está próximo, no que pode tocar. Fora isso, nada mais é importante. Antes que você se dê conta, o trabalho vira o centro do mundo. Se você não toma cuidado, ele se torna a razão da sua existência.” (HEIJMANS, 2015, p. 43).

É interessante ver que, apesar das frases curtas, da narrativa um tanto "simples", não é um livro "fraco"; pelo contrário, é até que denso, se reparar em alguns detalhe e começar a pensar neles. Isso seria até mais interessante se comentasse o final do livro, mas como é um spoiler meio grande, vou terminar meu comentário da obra a recomendando um bocado, e deixando uma última citação, que eu estou tentada a usar como metáfora para qualquer coisa que fuja do "padrão/normal".

“Não se pode velejar para sempre;
chega um momento em que querem você de volta à terra.” (HEIJMANS, 2015, p. 15).


HEIJMANS, Toine. No mar. Tradução de Mariângela Guimarães. São Paulo: Cosac Naify, 2015. 160 p.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Impressões com a leitura de "A dama do cachorrinho e outros contos", de A. P. Tchekhov

"Os animais domésticos desempenham um papel quase imperceptível, mas indiscutivelmente benévolo, na educação e na vida das crianças." (TCHEKHOV, 2009, p. 149)


Assistindo a um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), na semana passada, mais uma vez me vi questionamento sobre como encaro a Literatura. Embora o foco do trabalho em questão era voltado ao ensino, e houvessem comentários maravilhosos sobre isso, fiquei pensando em como faço minhas leituras; no que observo. Em meio aos meus pensamentos, ouvi comentarem a respeito da sensibilidade estética que a Literatura proporciona; pensei logo em A elegância do ouriço, da Muriel Barbery. Pensei também em diversos outros livros e, por fim, percebi que este é também um dos pontos que me faz querer um pouco de distância dos livros contemporâneos, e nacionais. Talvez eu deva esclarecer esse ponto antes de continuar; observem que não questiono história ou desenvolvimento da obra, apenas a sensibilidade estética, que é, em síntese, a escrita, a narrativa em si. Não quero dizer que todos os livros deveriam possuir essas narrativas; mesmo porque não é o propósito de toda "literatura". O ponto, parece-me, pelo que ouvi diversas vezes, é que falta essa narrativa trabalhada, não meramente puro diálogo ou frases curtas e simples  claro que há livros assim propositalmente, e são ou devem ser maravilhosos; exemplo disso seria o livro No mar, que comecei a ler há pouco e tem frases curtas, cujo objetivo parece ser passar a tensão pela qual o personagem está passando –, que tenha ou faça com que o leitor sinta-se lendo algo que proporcione certo deleite, pela fluidez, estrutura ou elaboração geral da obra. Afinal, um livro é mais do que a mensagem ou história exposta, é, também, a forma como isso se dá.

O pensamento central, que aqui convém, contudo, é que com minhas leituras, às vezes, "viajo" em pensamentos ou conversas afins a partir das citações; pela leitura, às vezes penso em dada questão na sociedade ou na minha vida. Em suma, eu uso da leitura para pensar no mundo – e não apenas "me isolar" dele, como pode-se ouvir falar, sobre a maravilha da leitura; a tal fuga da realidade –, o que não sei dizer se é algo bom ou não. Sobre pensar no mundo, não quero dizer que faço reflexões extraordinárias e filosóficas demais, não. Simplesmente quero dizer que são leituras que abrem minha mente para o que está a minha volta: aos pequenos detalhes do dia a dia ou algo mais abrangente. Como pensar na questão dos nomes (ou da ausência deles), algo que tanto Saramago quanto Murakami fazem, embora de formas diferentes; como pensar que o vilão pode virar mocinho e vice-versa, com a leitura de Tess; ou algo pequeno, como relembrar que, de fato, os animais domésticos possuem certa influência na vida das crianças, algo que a citação que abriu esta postagem demonstra. A questão, no conto em que a frase se encontra, aliás, é muito mais ampla, mas não é meu foco aqui, agora. Sugiro a leitura do conto, em qualquer caso, chama-se O acontecimento. Enfim, pensando nessas coisas, resolvi fazer esta postagem, nomeada com "impressões" não por acaso.

Antes de mais devaneios (meus), à obra lida!

O livro que li chama-se A dama do cachorrinhos e outros contos, do russo Anton Pavlovitch Tchekhov (1860 - 1904), da editora 34. Peguei o livro emprestado da mesma biblioteca (💛) em que peguei o livro História dos Treze do Balzac e Demian do Hermann Hesse (ambos comentados aqui). Infelizmente, por alguns motivos, entre eles o TCC, comecei a ler o livro em setembro e só fui terminá-lo nesse fim de semana que passou, entre os dias 3 e 4. Apesar disso, não tive problemas com possíveis "esquecimentos", já que é um livro de contos. Especificamente, 36 contos, entre eles Nos banhosUm dia no campo (cenazinha)QueridinhaAngústia, A dama dos cachorrinhosHomem num estojo e Pamonha. Alguns deles me encantaram muito, enquanto outros passaram "batidinho", sem muito brilho. Achei interessante que o tradutor, Boris Schnaiderman, expõe, no fim do livro, que os contos representam diferentes facetas do autor russo; alguns contos são considerados parte de sua melhor produção, enquanto outros são criticados e meio que "postos de lado". Num geral, eu diria que a escrita de Tchekhov é um tanto simples, e que, por meio disso, consegue fazer com que a narrativa flua. Em dado conto, por exemplo, não há (na minha opinião) como não se comover com a situação do personagem, mas isso comento mais a frente.


Não vejo sentido em falar dos contos que menos me agradaram ou mesmo em fazer aqui uma resenha da obra, porque queria compartilhar, de fato, duas citações, de contos diferentes. Cada uma teve um significado para mim. A primeira é do conto Um dia no campo (cenazinha). Mal me recordo, agora, da história, para resumi-la, mas trata-se de dois órfãos (crianças) e um senhor, o Tieriênti, também sem lar e pobre, que acode um dos órfãos que precisa de ajuda. Ao término do conto, exatamente no último parágrafo, se não estou enganada, há o trecho a seguir.

"As crianças adormecem, pensando no sapateiro sem lar. E, de noite, Tieriênti vem vê-las, faz sobre elas o sinal da cruz, coloca-lhes sob a cabeça alguns pães. E ninguém vê tamanho amor. A não ser, talvez, a lua, que desliza pelo céu e espia carinhosa, através do telhado cheio de furos, para o barracão abandonado." (TCHEKHOV, 2009, p. 80).

Num primeiro momento, imaginei a cena, à noite, e a lua a iluminar o local; uma cena bonita e triste. Fez-me lembrar de alguém que conversara comigo sobre isso; a lua e suas facetas. Tchekhov mostrou isso muito bem, retratando uma observadora carinhosa, que não afeta diretamente, e pode passar despercebida, mas está ali. E isso remete também ao Tieriênti, e seu olhar pelas crianças, o afeto e o carinho dado sem esperar nada em troca, nem mesmo o reconhecimento de seus atos. Embora agora todo um pensamento sobre pobreza possa surgir e aflorar nas mentes que leram esse conto e, especificamente, a citação acima, foco num ponto só: o afeto por si só, o reconhecimento como finalidade; duas coisas distintas, mas, de certo modo, interligadas. Não acho que caiba aqui um comentário prolongado, mas às vezes é interessante pensar se o ato feito espera sempre algo em troca. Se as ações, mesmo no dia a dia, são feitas por um querer ou um esperar retorno; às vezes, ouvindo algumas histórias, parece-me que esse é o problema de muitas pessoas, expectativas e seus retornos. Enfim, nessa linha de pensamento, algumas palavras-chaves passam rapidamente na minha mente: liquidez – e lembro-me de uma resenha (sim, só a resenha) que li da obra Amor líquido, do Bauman –, imediatismo, tecnologia, modernidade, futilidade, ódio, política; sensibilidade, respeito, compaixão, humanidade. De todas elas, acho que sensibilidade é a que mais marca a citação acima, e que irá representar o que se pode tirar de parte da próxima citação, do conto Angústia, que narra um pouco da história de Iona, um senhor que, desolado, quer que alguém o ouça, pois quer pôr para fora o que o atormenta; porém, ninguém lhe dá a menor atenção.

"Os olhos de Iona correm, inquietos e sofredores, pela multidão que se agita de ambos os lados da rua: não haverá, entre esses milhares de pessoas, uma ao menos que possa ouvi-lo? Mas a multidão corre, sem reparar nele, nem na sua angústia... Uma angústia imensa, que não conhece fronteiras. Dá a impressão de que, se o peito de Iona estourasse e dele fluísse para fora aquela angústia, daria para inundar o mundo e, no entanto, não se pode vê-la. Conseguiu caber numa casca tão insignificante, que não se pode percebê-la mesmo de dia, com muita luz..." (TCHEKHOV, 2009, p. 136).

De todos, acredito que esse tenha sido o meu conto favorito, sendo o que mais mexeu comigo. O drama, o sofrimento de Iona, e, então, a realidade nessas palavras que fazem tanto sentido; e quantas pessoas talvez não passem por isso? Não digo aqui apenas questões e situação extremas por quais as pessoas passam, digo, também, todo e qualquer momento angustiante por qual a pessoa passe e, naquele momento, não tenha com quem contar ou mesmo desabafar. Até pelo fato de que, com isso, algumas pessoas tendem a guardar tudo para si, todos esses sentimentos negativos; e um acúmulo disso tende, por vezes, a trazer um mal físico. É até estranho pensar nisso, mas emoções têm, sim, um poder grandioso na pessoa, tanto no psicológico quanto no físico. Alguns livros mais antigos mostram isso com maior clareza, não sei quanto aos mais contemporâneos - caso saibam, sintam-se à vontade para comentar. Por não ter um embasamento maior sobre essa questão, deixo-a por aqui, mas acho interessante pensar sobre isso.

Por outro lado, ainda quero comentar um outro ponto sobre essa citação; algo que vim a refletir principalmente com dada conversa com um amigo, depois que lhe mostrei esse trecho de Angústia. Seria, em síntese, o protagonismo das pessoas nas próprias histórias; em dados momentos e/ou situações, porém, esse protagonista não é algo além de um figurante. Isso se refere, explico-me melhor, às pessoas que, de tão focadas em si, não veem os demais, não pensam ou mesmo respeitam os outros. Como se, de certo modo, o outro ou os sentimentos alheios não fossem relevantes no seu próprio mundo, ou, ao menos, não possuíssem um papel grandioso. Por outro lado, isso talvez seja resultado de um momento em que cada vez mais se pede por uma individualização, um exibicionismo e uma posição reconhecida. Por que isso? Cabe a cada um ter sua resposta. Só não posso deixar de mencionar que isso nem sempre é algo feito propositalmente, é inconsciente. Numa busca pelo entendimento ou compreensão de si mesmo e sua situação no mundo, é até normal a pessoa se emergir nos próprios problemas e, sem querer, não perceber o problema alheio. Embora muitas outras questões estejam envolvidas, isso me lembra, de certo modo, de um vídeo (em inglês) que me mostraram recentemente. Talvez o maior problema seja que não há como estar atento a tudo e a todos, o que pode ocasionar uma visão egocêntrica, mas pode ser nada além de um olhar normal, imperfeito. Talvez, novamente, caiba apenas se perceber que somos, de fato, imperfeitos, e cometeremos falhas e/ou deixaremos de ver e perceber muitas coisas. Até porque a sociedade atual está tão desenvolvida tecnologicamente, com tantas redes sociais, discursos de ódio por tudo quanto é lado, tanta distância e tanta proximidade a distância, que... Ter uma opinião só e se apegar demais a ela pode ser um problema.

Posso estar, é claro, exagerando; e "viajando" demais. Novamente, retomo uma visão geral da obra e digo que, sim, vale a pena lê-la; embora não todos, considero que a leitura dos contos é muito relevante, tanto pela narrativa quanto pelas questões que abordam. Aliás, considero que pessoas com outras bagagens terão leituras mais profundas e valiosas do que a minha. Enfim, é isso. ✌

TCHEKHOV, A. P. A dama do cachorrinhos e outros contos. Organização, tradução, posfácio e notas de Boris Schnaiderman. 4. ed. São paulo: Ed. 34, 2009. 368 p.

sábado, 10 de dezembro de 2016

Maratona Literária #1

Finalmente, férias. Queria tanto dizer isso, e, pronto, falei. Ou melhor, escrevi. Se bem que não sei se são férias, já que não há um ao que retornar. Mas tudo bem. Depois de um semestre tão tumultuado, trabalho, TCC, entre outras coisinhas, finalmente poderei voltar a ler como gostaria. Nesse meio tempo, a Tainan, do Eu Curto Literatura, comentou comigo da Maratona Literária do grupo Interação Blogueiros Literários, e, bem, participarei. É a primeira vez que participo de uma maratona literária, então, vamos ver como será. ✌

A maratona acontecerá do dia 11 (domingo) ao 23 (sexta-feira). Há algumas categorias (acho que posso chamar assim) para os participantes escolherem os livros a serem lidos, sendo que um livro pode ser encaixado em mais de uma. São elas:

* Um clássico;
* Um livro que ganhou de presente;
* Um livro que faz parte de uma série;
* Um livro que está na sua meta de leitura e você ainda não leu;
* Livro que começou em 2016 e não terminou.

De início achei difícil encontrar livros para as categorias, principalmente esse de série, pois prefiro livros "únicos", mas encontrei, certinho, três livros. 

1 – No mar, de Toine Heijmans

No Mar se encaixa tanto em "um livro que está na sua meta de leitura e você ainda não leu" quanto em "livro que começou em 2016 e não terminou"; também se encaixaria na categoria "um livro que ganhou de presente", já que o ganhei da minha irmã (💙). Embora faça uma semana que o peguei para ler e seja bem pequeninho, não "parei" para lê-lo ainda. Pelas pouquíssimas páginas que li (nem 30), já reparei que a narrativa é bem simples, mas há uma tensão "no ar".

Memórias do Subsolo, de Fiódor M. Dostoiévski

Memórias do Subsolo se encaixa em duas categorias. Por ser "um clássico", russo, aliás. E por ser "um livro que ganhou de presente", já que ganhei essa edição linda de aniversário de uma amiga (💙). Por ser um dos livros mais famosos do Dostoiévski, já sei que deve ser uma obra muito boa.

3 – A batalha, de Joseph Henry Delaney
É, espírito natalino. 💝💚
E, por último, A Batalha, na categoria "um livro que faz parte de uma série". Este é o quarto, sendo os anteriores: O aprendiz; A maldição; e O segredo. Comecei a ler essa série há tempos e até havia me esquecido dela. Os primeiros são muito bons, mas de algum modo estou com receio que a qualidade diminua, espero que não.

Então, esta é a minha TBR (que acho que significa To Be Read), e tem 653 páginas. Acho que darei conta, mas veremos. Acredito que todos os três devem ser ótimos livros, e retornarei à leitura com bons títulos.

Por fim, ótimas férias e boas leituras a todos! ✌

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

[Hel] Sobre amizade e livros

       Em cada etapa de nossas vidas, em cada lugar novo a que vamos, temos a oportunidade de conhecer pessoas novas. Novos conhecimentos, novas experiências. Gostaria de poder fazer, agora, um enorme discurso sobre isso, sobre essas etapas; particularmente sobre esta etapa que estou concluindo neste semestre, a graduação. Talvez faça isso depois, quando tiver um tempo maior para isso. Infelizmente, nessa pressa, serei mais sucinta. Hoje, especialmente, dia 30 de novembro, é meu aniversário, mais um ano de desafios, conhecimentos e... Principalmente, mais um ano com pessoas incríveis. Dediquei meu TCC a essas pessoas, e talvez devesse fazer um texto só para isso futuramente... Enfim, uma dessas pessoas incríveis, a Helena, minha amiga e colega de graduação, dona do blog Leituras e Gatices, escreveu um texto muito lindinho 💜 para mim. Sendo que, além dos ouricinhos, livros, literatura e leituras são assuntos que também já falei e muito falarei no blog, estarei compartilhando este texto, porque além de fofo, fala de livros, de leituras e de A elegância do ouriço (já sabem como eu amo esse livro 💛). 
       Para mim, a leitura e os livros têm esse poder lindo; foi parte da minha motivação em cursar Letras, é parte da motivação que me faz questionar sobre as leituras alheias - Moça da Segunda Fase, sinta-se aqui mencionada também - e é, em síntese, algo mágico. Enfim, agradeço pelo texto maravilhoso e termino desejando leituras maravilhosas a todos. Espero que todos conheçam ou venham a conhecer também pessoas tão incríveis quanto essas que eu conheci nesse período de graduação! Muito, muito obrigada, Helena. 💙

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Sobre amizade e livros

Muitos já tentaram definir o que é a amizade, há diversos adjetivos que se encaixam: lealdade, confiança, parceria, cumplicidade. Segundo Quintana, “A amizade é o amor que nunca morre.”. Segundo a pessoa que vos fala, amizade é tudo isso e muito mais. Eu não gosto de definir as coisas, mas algumas considerações podem ser feitas sobre a minha amizade com a dona desse blog no qual vocês estão lendo este singelo texto. A Paula é aquela pessoinha fofa que empresta livros (qual a maior prova de amizade do que emprestar livros?), que dá dicas de leitura e que conversa sobre o que está lendo. É aquela pessoa que não sabe o quanto é maravilhosa, e fica sempre achando que o que faz não é bom o suficiente (quando, na verdade, ela só arrasa). Ela escreve as melhores resenhas e tem um ótimo gosto para livros e autores, gosta de gatinhos, pandas e corujas, os animaizinhos mais fofos da galáxia <3 . É aquela pessoa que se pode contar em todas as situações, desde confiar um segredo até revisar um texto (se quiser revisar este, Paula, fica à vontade, haha).
Hoje é o dia do seu aniversário e, além de agradecer pela sua amizade, queria também agradecer por todas as coisas que aprendi contigo. Agradecer também por me fazer ler A elegância do ouriço, que é simplesmente o livro mais lindo do universo, que não por acaso fala de amizade e livros, de como a Literatura pode aproximar as pessoas e de como podemos julgar uma pessoa sem conhecê-la. Não que antes de eu ser tua amiga eu te julgasse mal, eu apenas não imaginava que você fosse uma pessoa tão interessante. Você sempre foi quieta e discreta, nunca mostrou de verdade o quanto você era inteligente, simpática e querida. Não te considero um ouricinho, mas de certo modo você é como a Reneé, esconde muita beleza dentro de si. E aconteceu de eu não ter olhos de Paloma e de Sr. Ozu, que enxergam além das aparências. Fico grata por ter, certo dia, trocado de lugar na sala e ter ido sentar perto de você e da Julya. Esse pequeno gesto mudou completamente o modo como eu te enxergava e me fez ganhar as duas melhores amigas que se pode ter durante os anos da graduação (e da vida também).
Feliz aniversário é o que te desejo para esse dia. Muito sucesso para sua vida profissional. Muitas leituras e livros lindos para sua bagagem literária e para sua estante. E continue sendo essa pessoa incrível.


Beijinhos, Hel.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

"O Gato Preto", de Edgar Allan Poe

Outubro terminando, mais um Halloween e eis que resolvi postar um pequeno texto que, embora não tenha muito a ver com a data, apresenta elementos considerados de "má sorte", como o gato preto. Escrevi esse texto para uma aula de Literatura, em que tínhamos que escolher algum ponto de uma das leituras do semestre e escrever sobre isso. Optei pelo conto O gato preto, e quis comentar sobre a culpa e a consciência no narrador deste conto de Edgar Allan Poe. O tema, enfim, me pareceu muito interessante, embora eu talvez não tenha escrito o tanto que a temática em si merecia. Seja por tempo ou por falta de conhecimento a respeito disso. Ah, pequeno detalhe, tem spoiler. Enfim, segue abaixo, espero que não se decepcionem. =)

Bom halloween a todos!

Fonte: Pixabay.

Aclamado escritor de mistério e precursor de recursos narrativos ligados à ficção de mistério e à ficção policial, Edgar Allan Poe escreveu, em 1843, o conto O gato preto. Além de iniciar com um tema tão abrangente e questionador como o bem e o mal, a história aborda também a questão da culpa e da consciência, demonstrados por meio dos pensamentos do narrador e de seus atos de violência. O conto narra a vida de um homem que, impulsionado pela fúria e pelo alcoolismo, pratica ações desprezíveis contra vidas alheias, como privar seu gato preto de um de seus olhos e assassinar a própria esposa. 

Demonstrando ao leitor ter sido, por longos anos, uma pessoa amável e que adorava animais, ao ponto de criar vários deles, a mudança drástica de atitude causa um questionamento e uma particularidade da existência humana, que envolve tanto a adaptação quanto à capacidade de percepção dos atos infligidos. A própria consciência do narrador o mostra que houve uma mudança em si mesmo, e que foi uma mudança radical. E isso se percebe pelos comentários sobre seu passado e presente; as atitudes e personalidade antigas e as atuais (no conto). Apesar da consciência da crueldade que estava passando a ter, o narrador-protagonista não parece forçar-se a mudar, como se apenas compreender o que fora e é fosse o bastante. A culpa, de fato, cruel e devastadora, parece inexistente, até o momento que seu primeiro “crime” seja cometido, isso é, o assassinato de seu gato preto. 

A história continua se desenrolando após o aparecimento de outro gato preto, muito semelhante ao primeiro, inclusive quanto ao olho, sendo diferenciado apenas por uma marca branca no pelo, próxima ao pescoço. A partir de então pode-se começar a notar uma nova alteração nas atitudes do narrador, se sentindo quase que claustrofóbico, assustado, com a presença do gato, ao ponto de querer se livrar do pequeno. Numa tentativa, acaba por matar a esposa, e perder o gato de vista. Esse assassinato, aparentemente perfeito – isso é, sem possibilidades de que fosse descoberto –, aparentemente não causa peso na consciência do narrador, que parece apenas se questionar da localização do gato. Ao passo em que se poderia dizer que a ausência, explícita, de culpa, poderia ser resultado de uma consciência que parece mais em conflito com a mudança do decorrer de sua vida.

A parte final do conto associa-se a um outro conto do autor, O coração delator, cujos finais se aproximam quanto a um criminoso e a descoberta de seus crimes. No caso de O gato preto, o protagonista se sente tão convicto e livre da culpa que se delata, batendo na parede que esconde o cadáver da mulher. A culpa (explícita) sede espaço ao pavor, ao medo e à angústia. Emoções que também podem ser associadas à mente culposa.

Mais que um conto narrado por um personagem movido pelas sensações e fúria, O gato preto mostra uma faceta da humanidade; a mudança do indivíduo ao longo do tempo, a influência de elementos externos (como o álcool), a consciência dos próprios atos e, também, a culpa, que por vezes aparece não como arrependimento, mas como um medo, um pavor das consequências.

POE, Edgar Allan. O gato preto (Tradução de José Paulo Paes). In: POE, Edgar Allan. Histórias extraordinárias. São Paulo: Companhia das Letras, 2013. Cap. 4. p. 69-79.

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Um poucochinho sobre livros, leituras e a ação de compartilhá-los [Parte II]


Com o tempo, os detalhes de uma leitura vão sendo esquecidos e restará, em grande maioria, um amontoado seleto de cenas fragmentadas e, numa visão maior, uma impressão. Por vezes uma impressão boa, densa, por vezes algo vago e vazio. Com a sociedade da neve, de Pablo Vierci, por exemplo, obra que li durante o Ensino Médio, ficou uma impressão de uma história surpreendente, de que seres humanos se adaptam a coisas impressionantes e que um pequeno fio de esperança já é uma fonte inacreditável de força e coragem para seguir em frente. E essa foi uma leitura que não compartilhei de fato até um bom tempo depois, em que fiz um conhecido lê-lo também (dar o livro de presente é uma forma de incentivo a leitura também, não acham? Embora às vezes seja uma certa pressão...). Já sinto que é diferente de uma leitura que fiz sabendo que a compartilharia logo em seguida, como Peter Pan ou Garota, Interrompida. Em que a leitura individual logo ganhou opiniões diversas e pontos que antes passaram despercebidos veem à tona; um compartilhamento de visões diferentes, uma longa conversa sobre coisas fascinantes. Foi principalmente com leituras assim que pude reparar que cada pessoa, de fato, tem um olhar para o livro; algumas pessoas tendem a marcar as citações que acham mais interessantes. Algumas coincidem, outras não.
Tendo escrito a primeira parte dessa postagem na outra semana, deram-me a ideia incrível de, na mesma temática, sobre conversas de livros, comentar sobre o Clube do Livro. A ideia veio da Julya, do Leituras & Gatices, e espero que esse texto que estou fazendo não a desaponte. Enfim, graças a essa ideia, e na motivação da "Parte I", queria comentar sobre minha visão de um Clube do Livro – a partir do que conheço a respeito, tendo em vista que participo de um. Pensei em duas perguntas que parecem dar conta desse comentário, se houver qualquer dúvida estarei à disposição para respondê-las – se possível.

O que é um Clube do Livro?
Em resumo, é um grupo de pessoas – sem restrições  que conversam sobre livros. Só que é mais interessante que essa primeira frase. Os livros não são totalmente aleatórios e é um tantinho organizado, na verdade, digo, não é cada um conversando aleatoriamente sobre o que anda lendo – apesar de que tudo depende do objetivo do clube, claro. Contudo, convenhamos que precisa-se sempre de um ponto de partida e um elo nessas conversas; principalmente se as pessoas forem um tantinho desconhecidas.
Quanto à escolha das obras, devo dizer que, particularmente, gostei bastante de participar da seleção dos títulos do clube que participo. Claro que cada grupo ou clube de leitura/livro deve ter uma organização diferente, imagino, sendo por temática, autor ou obra, além de se ter um planejamento da quantidade de tempo e encontros. Não é tão complexo quanto pode parecer.
Quando foi organizado o Clube do Livro que faço parte – no final do ano passado , optamos, por exemplo, em partir de meses temáticos, de modo que em cada mês a obra escolhida seria motivada por algo em particular. No mês da mulher, optamos por obras de escritoras com protagonistas mulheres; nesse mês, lemos A cor púrpura, de Alice Walker. A escolha das temáticas teve por base o calendário e suas comemorações; dia da mulher, dia do artista etc. Essa opção de temas nos proporciona uma abrangência de obras que podem ser escolhidas e que permite que a cada ano – se o clube continuar a seguir carreira a partir do ano que vem – o mês seja uma surpresa, mesmo continuando a seguir a mesma temática. O mais interessante é que essa diversidade abrange livros de vários gêneros literários diferentes; há livro de romance, de terror, de memórias etc. O que, às vezes, nos faz sair da nossa tão aconchegante zona de conforto, lendo, às vezes, livros que não leríamos ou que iriamos colocando lá pro fundinho na lista de leitura – como foi o caso de Admirável Mundo Novo, para mim. Eu já pretendia ler a obra, mas estava deixando para depois, e depois, e depois, e sabe-se lá quando eu a leria; não fosse o clube, que tinha essa obra do Huxley como leitura do mês de maio, talvez ainda não a tivesse lido.
Depende muito de qual o objetivo do grupo em questão, mas imagino que a diversidade de autores e nacionalidade nos permita uma visão mais ampla da literatura, nos faça apreciar mais determinado gênero ou estilo literário, ou mesmo depreciar dado gênero. Sempre numa experiência válida, cuja conversa pode vir a gerar ideais e perspectivas diferentes. Lendo Peter Pan, por exemplo, passei batido pela palavra escalpo, até que num encontro do clube fora dito o que realmente isso implicava – uma prática nada inofensiva e delicada. Foi algo muito significativo. Um pequeno detalhe, mas que muda muita coisa.
Não digo que ler apenas o que gostamos seja ruim, mas essa oportunidade diferente nos permite ampliar nosso olhar para a literatura e para o mundo. Se a conversa é produtiva, as perspectivas diferentes podem trazer conhecimentos diversos que por vezes podem fugir do que está apenas no livro. E aí entra aquela questão que acho fascinante que diz que todo texto é incompleto, sendo complementado apenas na leitura, com a bagagem de cada leitor. (<3).

Enfim, resta um comentário extra quanto ao clube do livro. Não deixando nunca de lembrar que cada livro possui sua densidade e seu tamanho, a escolha da obra em dada época – imagine ler algo como Os irmãos Karamázov (900 páginas) em semestre de TCC!  e seu tamanho são essenciais. Se é uma obra grande, geralmente pode haver um espaço maior para a leitura ou exigir mais dedicação, ou um espaço menor para leitura de algo menor  – e exigir menos dedicação na obra em questão. É interessante, principalmente, ver qual o objetivo do grupo; apesar de que só a experiência já vale a pena. (*-*)

O que me a acrescentou participar de um clube do livro?
Antes de qualquer coisa: não desanimem se encontrarem uma leitura negativa no grupo. A primeira leitura do Clube do Livro que participo, em outubro do ano passado, foi o desagradável Sementes no Gelo, do André Vianco. Que leitura decepcionante! O agradável foi ver que não fui a única pensando isso; o desgosto foi compartilhado. A obra deixou tanto a desejar, embora tivesse ideias boas, que um começo desse só podia ser desanimador. Contudo, em novembro lemos Garota, interrompida, da Susanna Kaysen, e em dezembro lemos Peter Pan, do J. M. Barrie; leituras que valem a pena! Recomendo. Convém dar ênfase no fato de que mesmo um livro ruim nos proporcionou uma conversa gratificante. Afinal, aprendemos com erros também. Quando somos capazes de ver algo desagradável num livro, significa que estamos sendo um pouco mais críticos e descobrindo qual nosso gosto literário. E se pararmos para pensar nesse ponto negativo e pensar no que poderia ser diferente para melhorar? Estamos exercitando nosso conhecimento tanto de leitura quanto de escrita, por difícil que possa parecer. Porque opinar na escrita implica também ter certo conhecimento da estrutura ou do processo de produção textual. Bom, nem sempre, mas é uma possibilidade.
Conversando com o pessoal do clube também acabei pegando alguns títulos novos para minha lista de leitura, que me interessaram e estão por aí esperando ser lidos. Esse contato com pessoas de gostos literários diferentes ou mesmo iguais é gratificante, pois mostra que sempre há algo fascinante a ser descoberto e lido. Até um autor desconhecido e que teve uma leitura interessante pode acabar ganhando um novo leitor assim. Este ano, por exemplo, posso dizer que li uma obra da Virginia Woolf pela primeira vez, e já pretendo ler algo dela novamente.
Enfim, respondendo a pergunta, em resumo: conhecimento, conversas valiosas e a possibilidade de percepção fundamental de que cada leitura é única. Mesmo a releitura é algo único. Acima de tudo, conversar sobre livros com pessoas que têm algo a acrescentar é tão animador quanto a própria leitura em si.
Será que esse meu comentário já seria uma resposta do por que participar de um clube do livro?

Por fim, e considerando que esse blog é, em si, uma busca por leituras que valham a pena, além de no caminho poder me deparar com ouriços, queria dizer que sim, já encontrei ouricinhos nas leituras do clube; Sementes no Gelo resumiria tudo. Devo dizer, também, que mesmo Admirável Mundo Novo foi uma surpresa grandiosa, diferente da vaga impressão que eu tinha antes da leitura. 
Bom, era isso, e espero que esse poucochinho sobre livros, leituras e a ação de compartilhá-los não tenha sido um desperdício de tempo. 
Eu, particularmente, me animo quando o assunto é livros e a conversa é agradável. <3

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Um poucochinho sobre livros, leituras e a ação de compartilhá-los [Parte I]

Que livros mudam nossa vida parece algo tão óbvio ou comentado que soa um pouco repetitivo e chato falar a respeito. Contudo, estive pensando sobre isso e, considerando também o momento em que estou – há quase um mês sem concluir leitura de ficção alguma – resolvi compartilhar a minha visão disso. Posso me equivocar, claro, e peço que gentilmente conversem sobre isso comigo, se for o caso. Não é aqui também um espaço de conversa? Também por isso pensei que, já que não tenho livros lidos recentemente para comentar – incrivelmente ainda não fiz a resenha de Crime e Castigo, e talvez nem a faça –, comentarei sobre eles. E se me perguntarem “por que resolveu falar disso agora?”, a resposta é simples: num momento meio triste, eis que uma moça-de-cabelos-curtos vem me devolver um livro que eu havia emprestado a ela. A tal obra é o incrível Caçando Carneiros, um dos que usei de base para o título do blog. Ela talvez não tenha notado, mas ter conversado comigo sobre essa obra sensacional e coisas afins me deu um ânimo fofo. Esse mesmo ânimo, horas após, é o que me faz querer demonstrar que ler é mais do que um ato solitário; é uma ação que pode ser compartilhada, discutida e alegremente mudar vidas.
Antes disso, queria comentar que talvez seja um preconceito comum de que pessoal de Letras lê muito. Pode até ser verdade quanto a ler bastantes teóricos, apenas. A leitura de livros ficcionais e de Literatura mesmo costuma ser meio renegada ou até feita apenas quando é obrigação do curso – felizmente, encontrei pessoas muito queridas, a Julya e a Helena do Leituras & Gatices, e a Tainan do Eu Curto Literatura, por exemplo, que leem bastante. Elas sabem o quanto ler é bom e é por isso também que têm seus blogs e compartilham esse mundo maravilhoso. É também por isso que eu, recentemente, criei este blog. Mas... O que isso tem a ver? Bem, pensem comigo: se em Letras, no curso em que mais se espera encontrar bons leitores, não é tão fácil encontrá-los, me pergunto quanto aos outros ambientes. Não digo que não tenham, não me interpretem mal. É só um ponto curioso; afinal, meu conhecimento de clássicos veio em sua grande maioria do meu contato com esses autores no curso ou em conversas – onde esses nomes de peso não são ditos no ambiente pesado da escola, em que qualquer autor antigo é visto como “leitura obrigatória para vestibulares” ou coisa do tipo –, onde a leitura é feita, boa parte das vezes, por interesse, por gosto, por prazer. 
Há tanto ramo se espalhando que poderia usar e discorrer para diferentes partes dessa conversa, mas tentarei focar no que me trouxe a compartilhar isso: a felicidade de uma conversa sobre livros. Fica claro que ler livros é sim uma ação solitária, no aspecto físico disso. É apenas você e o livro. Muitas pessoas param por aí, porque não tem com quem conversar sobre o que leu, seja por falta de conhecidos que leem ou que tenham o mesmo gosto literário. E isso em nenhum momento diminui a grandiosidade que é ler. Apenas talvez deixem de ter um adicional; que é poder trocar ideias sobre o que leu. E poder se animar com os livros quando não estás lendo coisa alguma, por qualquer motivo que seja, como eu estou agora. Porque um livro lido pode ser comentado muito tempo depois – claro que escrever uma resenha é diferente. Apesar dos detalhes fugirem da memória, fica uma impressão maior que a obra deixou. Como ficou para mim a melancolia e o drama do Murakami. Como ficou a leveza e o drama de A elegância do ouriço. Não sei se isso fica claro, mas espero que tenham me entendido sobre essa “impressão”. Essa sensação de algo, uma leitura ou mesmo um acontecimento na vida, que aconteceu há algum tempo, mas que ao lembrar nos traz alguma sensação diferente. Seja ela de algo bom ou de algo ruim.
Disseram uma vez, numa das aulas do curso de Letras que faço, não lembro em que disciplina, ou mesmo quem disse, mas que a pessoa sinta-se aqui citada, que a Literatura serve para nos colocar no lugar do outro. É nos colocando nesse outro espaço, nessa outra vivência, com o drama e vida alheios, que aprendemos mais sobre o mundo e sobre nós mesmos. A comparação, a análise, mesmo que inconsciente, é o que vai, aos poucos, nos mudando; mostrando-nos que há toda uma outra perspectiva. É lendo sobre um mundo pós-apocalíptico, ou de uma época muito antiga, que percebemos o quanto a tecnologia nos proporciona conforto, comodidade e acesso a informações tão diversas. Tudo isso pode ser notado sozinho, talvez, mas, a meu ver, é com a visão do outro, seja a leitura ou com a conversa, ou mesmo com a leitura de textos alheios na internet, que nos tornamos pessoas melhores. Que aprendemos tanto a melhorar a nós mesmos quanto a ajudar aos outros – aqui digo, principalmente, a ser uma pessoa mais educada, menos irritadiça etc. –; aprendemos, também, que o mundo pode ser bem ruinzinho. Principalmente, eu diria, que há os dois lados da história – quem sabe até um terceiro lado.

Enfim, geralmente, é com essas conversas – ou mesmo aquela conversa individual em que se pode pensar sobre o livro – que percebo se a obra é boa ou não, se a leitura é significativa. Se ela me muda, mesmo que um pouco. Ou se não muda, se ela consegue mexer comigo. Se me tira do local inicial de onde estava. Por exemplo, lendo História dos Treze, do Balzac, eu parei e pensei o quanto a contextualização é algo impressionante e que, às vezes, é deixado de lado. Depois dessa leitura, eu presto mais atenção a isso. Depois de ler Crime e Castigo, eu passei a ver que há outra visão dos criminosos e perceber, aquele meio óbvio que só notamos depois que lemos, que no crime há a importante parte do “peso na consciência”. Com as leituras de Murakami eu percebi que finais inconclusos e histórias simples são melhores do que aparentam, desde que o escritor saiba lidar com isso. Entre outras coisas se eu for parar para pensar. Com isso, queria deixar um questionamento, e sintam-se livres a comentar caso queiram: já leram alguma obra que mostrou a vocês uma visão diferente, que os tirou do seu espacinho aconchegante?

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

História dos Treze, de Honoré de Balzac #3


Lembro-me sempre de uma frase que ouvi no Ensino Médio, algo que até fora mencionado em uma aula do curso de Letras, que seria: “o trabalho dignifica o homem”. E eis que há toda uma reflexão por trás, que não é aqui meu propósito. A questão é que a relacionei com algo que li em Balzac, e proponho-me a pensar sobre isso. Numa sociedade como a nossa, trabalhar é não apenas necessário, como é uma marca de que fazemos parte dessa sociedade. As pessoas voltadas ao ócio não costumam ser bem vistas. Sejam as que não trabalham por motivos diversos, sejam as que não possuem oportunidade ou mesmo as preguiçosas. Mas pensemos nas que trabalham, de fato. Cada vez mais o tempo do dia a dia é dedicado a esse serviço, cuja renda permite que a pessoa consiga se manter, viver "bem", comprar o que precisa etc. O trabalho, em algumas situações, faz a pessoa levantar cedo, mal aproveitar o café da manhã e ir apressada para trabalhar. Lá, gasta suas forças físicas e mentais para que mantenha o bom rendimento e continue empregada. Então, ao chegar a casa... O cansaço, o esgotamento de ambas as partes da pessoa, costuma fazê-la ajeitar alguns pormenores que lhe restavam na casa e ir dormir. Sem dedicar tempo a si mesma. Quem já leu Admirável Mundo Novo poderá se lembrar da adição de carga horária e de suprimento de soma aos de classes mais baixas, pois o tempo livre desgasta o indivíduo que não conhece a si mesmo. Ou, às vezes, por começar a conhecer-se. E o que quero pensar com isso tudo é: não é o trabalho incessante um rompimento com nós mesmos? E, não obstante, com o tempo, como descobrimos quem somos?


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“O nome de Honoré de Balzac, meus senhores, há de fundir-se no rasto luminoso que nossa época deixará no futuro. E ele era um dos primeiros entre os maiores, um dos mais altos entre os melhores.”
Victor Hugo (1850)*

A trilogia História dos Treze, de Honoré de Balzac, é constituída por: Ferragus; A duquesa de Langeais; e A menina dos olhos de ouro. Nas três histórias têm-se o foco em poucos personagens, dado que o escritor, embora coloque bastantes personagens para histórias maiores, possui uma narrativa mais descritiva e/ou reflexiva sobre a vida parisiense, a cidade e seus habitantes. Já escrevi textos para as primeiras duas histórias, que mais se aproximam de comentários/reflexões do que resenhas propriamente ditas. Desta vez, ao comentar a parte final da obra, procurarei, também, fazer um apanhado geral do livro, retomando pontos comentados anteriormente.

Um primeiro comentário se atém a observar que personagens mencionados nas duas histórias anteriores do livro, como Ferragus e Ronquerolles, aparecem brevemente em A menina dos olhos de ouro. Isso, além de unir as histórias no mesmo universo, traz o carácter misterioso sobre a sociedade dos Treze Devoradores, da qual não temos conhecimentos além dos poucos personagens e situações que aparecem na trilogia. E, até onde sei, não há outras histórias desses integrantes, pois há a informação, dada pelo próprio Balzac, de que ter essas três histórias contadas já é o bastante, sendo deixadas as outras às sombras como se permanece o próprio grupo dos Devoradores em si. Em cada um dos romances, temos breves visões sobre o que essa sociedade é capaz de fazer; apesar de ser um elemento essencial para as histórias, tem-se esse grupo secreto apenas como plano de fundo.
Na última história da trilogia, escrita entre 1834 e 1835, vê-se o jovem Henri de Marsay como protagonista; um rapaz inteligente, repleto de conhecimentos e qualidades que o fazem quase se sentir acima dos demais, além de possuir uma desconfiança geral com todos, como se percebe com seu "amigo" Paul. De Marsay, pelos indícios no decorrer do romance e por seu aparecimento em A duquesa de Langeais, é integrante dos Treze Devoradores, motivo pelo qual o faz se sentir capaz de tudo, aliás. Essa posição em que se encontra acaba por torná-lo, além de um tanto indiferente quanto aos demais, ávido a emoções além das cotidianas; eis que repara numa moça de olhos dourados que viu passar numa rua que frequentava, sempre acompanhada por uma aia que a apressava para sair logo das ruas. É essa a moça que dá título ao romance, tendo sido apelidada de menina dos olhos de ouro. Encontrando-se encantado e mesmo apaixonado pela moça, Henri busca encontrá-la e poder dirigir-lhe a palavra. Para isso há todo um plano para chegar a esse objetivo; eis que o consegue, e descobre que a moça demonstra uma ignorância – ou seria ingenuidade? – quanto à vida em sociedade, além de que ela lhe oferece todos os prazeres que lhe puder dar, enquanto que lhe pede, temerosa, para que a livre da situação em que se encontra.

Indo além desse resumo poderia-se dizer que perderia boa parte da graça da leitura, pois, apesar de integrante da trilogia de Balzac e ainda ter toda a narrativa cativante do escritor, parece-me que esta é a mais fraca das três. A história possui a contextualização tão intrigante do autor, a narrativa bem descrita e reflexões pertinentes. Porém, dá para perceber que há uma queda, uma espécie de rapidez na conclusão da história, não pela narrativa, que não me pareceu com aquele tom típico de quando os autores tendem a terminar com pressa, mas que, se comparada às demais, nota-se que houve menos reflexões da metade em diante, menos desenvolvimento e explicações e/ou reflexões a respeito. Parece-me que essa história poderia ser um pouco mais prolongada, pois a ideia de romance noir, como diz a introdução, parece ter retirado parte da essência do desenvolvimento. O desfecho final, por exemplo, ficou tão vago quanto um conto mal terminado. É uma história que poderia ter mais cem páginas e não seria exaustiva, pois assunto não lhe faltaria – ao menos é o que me parece. Ao mesmo tempo, viria a seguinte questão: mas será que se houvesse essa continuação, esse maior desenvolvimento, não se tornaria ruim? Como muitos livros que recebem continuação quando muito bem sobreviveriam melhor sendo uma obra única, sem essa explicação adicional? Quem sabe... Ainda permanece a sensação de que faltou algo.

“Precursor de todos os grandes romancistas modernos, Balzac revelou os intestinos da sociedade de sua época e descreveu para sempre as profundezas da alma humana. Ousou o tempo todo, em especial neste romance, quando aborda uma tórrida paixão entre duas mulheres.” (BALZAC, 2009, p. 327, introdução à história A menina dos olhos de ouro).

Talvez tenha tido uma leitura superficial, o que é uma resposta, mas, ao ler o trecho acima esperei encontrar essa “tórrida paixão entre duas mulheres” (op. cit.), e, do que encontrei, senti-me um tanto quanto enganada, pois não me parece algo que fica tão claro. Imagino que esse tenha sido um dos motivos pelo qual a história não me impressionou como as outras; a expectativa de uma história que se igualasse ou fosse melhor que as anteriores mostrou-me, mais uma vez, que expectativas não devem ser criadas. A introdução, por exemplo, é uma visão da história, e apenas isso.

“Que potência os destrói? A paixão. Toda paixão em Paris se resolve por dois termos: ouro e prazer.” (BALZAC, 2009, p. 342).

Na trilogia há em comum também o quanto a paixão pode mover o ser humano, deixá-lo ansioso para a perpetuação desse sentimento, fazendo do possível para evitar manchas ou mesmo obstáculos a isso. Acrescentando, também, o fato de que esses personagens, os protagonistas das trilogias, não sofrem com a condição econômica, dado que todos são bem colocados socialmente, com fortunas que lhes aprazem. De modo que, como na citação, de fato vê-se que as paixões são movidas pelo ouro e pelo prazer. Ademais, as histórias balzaquianas são mais um olhar para o desenvolvimento dos personagens, uma contextualização, crítica da sociedade, do que histórias complexas cujas intrigas e/ou mistério são o ponto forte da história.
O exemplar que tive a oportunidade de ler é da editora L&PM; o que me surpreendeu porque, de algum modo, sempre imaginei essa editora apenas por seus livros de edições de bolso, enviados às escolas pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola – PNBE. A edição que li, em particular, não sei se há outras, possui alguns poucos erros de revisão, mas não atrapalhou muito a leitura. Tanto a diagramação quanto o material escolhido para a produção do livro são excelentes, pois, apesar de grande, o livro não é pesado. Porém, considero a capa pouco chamativa, mesmo sabendo que não tem a função exclusiva de chamar a atenção, e sim de proteger o miolo do livro, apesar de achá-la uma boa capa. De modo que parece-me um pouco com um ouricinho.
Enfim, essas foram as primeiras histórias de Honoré de Balzac (1799-1850) que li, mas já sei que pretendo ler outras, caso sejam tão boas quanto essas. Apesar dos pontos negativos, no que se refere, principalmente, à última história, recomendo-as, principalmente pela narrativa cativante.


*Trecho de abertura da introdução de Ivan Pinheiro Machado para o romance A menina dos olhos de ouro, p. 327.

BALZAC, Honoré de. História dos Treze: Ferragus, A duquesa de Langeais, A menina dos olhos de ouro. (Apresentação e introdução de Ivan Pinheiro Machado; Tradução de William Lages, Paulo Neves e Ilana Heineberg). Porto Alegre, RS: L&PM, 2009. 420 p.

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Caçando Ouriços nas Férias: resultados!

Olá, leitores!

Pois é, as férias acabaram, as aulas voltaram e hora de ver o tanto que consegui aproveitar. Infelizmente, fiz bem menos leituras do que planejava. Tanto teóricas quanto de Literatura mesmo. Não vem aqui ficar pensando e comentando o porquê, mas devo comentar que resolvi mudar umas leituras. Melhor dizer, resolvi trocar as duas leituras de Dostoiévski por uma só: Crime e Castigo. Como comentei anteriormente, peguei Demian na biblioteca da escola onde estudei/fiz estágio e, ao devolvê-lo, acabei pegando essa maravilhosa edição da Editora 34 (talvez venha a fazer uma postagem desse livro e, então, comento melhor sobre o livro, porque ainda não finalizei a leitura). Enfim, aos resultados!

 História dos Treze, de Honoré de Balzac
Esse livro eu já comentei por aqui, nas histórias Ferragus e A duquesa de Langeais e, apesar de ainda não ter postado a última, A menina dos olhos de ouro, foi a primeira leitura que concluí. Recomendo muitíssimo; a escrita de Balzac realmente me surpreendeu! E, como já comentei, é um ouricinho, levem isso em conta.

 Lugar Nenhum, do Neil Gaiman
Segunda leitura finalizada, e simplesmente impressionante. Toda a ideia de uma outra Londres, como um mundo paralelo, a existência de seres que sequer temos ideia, o drama... O drama! Enfim, já havia dito antes, mas retomo que não é um ouricinho; a capa é bonitinha. Aliás, tem uma nova edição da Intrínseca, já viram?

 Demian, do Hermann Hesse
O que dizer deste livro? Leiam. Já o comentei por aqui, foi uma leitura ótima, muitíssimo recomendada. Todo o desenvolvimento da obra, a narrativa linda... <3
Acho que definir se é um ouricinho ou não depende muito da edição, mas grande parte delas faz muito sentido com a história. Muito coerente, eu diria. 

– Estação Onze, da Emily St. John Mandel
Não errei ao dizer que era um livro bem dramático e meio pós-apocalíptico, mas estaria errada ao dizer que é apenas isso. Devo dizer que não é um ouricinho mesmo, a obra é incrível. A resenhei no blog Eu Curto Literatura, caso queiram conferir minha visão da obra, um tanto limitada pelos spoilers. Enfim, uma leitura surpreendente e muito bem-vinda; recomendo. 

Crime e Castigo
Foto: Skoob.
Não finalizada – Crime e Castigo, do Fiódor M. Dostoiévski
Por fim, a leitura iniciada, mas não terminada, embora falte bem pouquinho. Como puderam ver, dos sete livros escolhidos para as férias, li apenas quatro, permanecendo na listinha de espera Sangue na Neve, O Jogador e o livro das duas novelas do Dostoiévski. Em compensação, estou lendo esta obra-prima. Vocês já leram ou conhecem essa obra? Meio óbvio o que direi se considerarmos o título, mas a história, num resumo bem curtinho, é sobre um homem mais ou menos na miséria que comete o crime de assassinar uma velha. A partir de então, vê-se o desenvolvimento de seu estado de espírito e do desenrolar do caso de homicídio, deixando-nos em vista, aos poucos, a punição, o castigo. Enfim, acho as capas da Editora 34 bem interessantes, não muito atrativas, admito, mas gosto do padrão deles. Então, não acho que seja um ouricinho.



Bom, basicamente foram essas as leituras que consegui fazer. Espero conseguir ler essas obras que ficaram para trás ainda este ano, mas... veremos. No fim, não encontrei um ouricinho de fato; uma obra que traga uma visão bem diversa e tal. Pelo contrário, me impressionei positivamente com as leituras. E espero que também tenham tido leituras positivamente surpreendentes. =)

“Quando se quer algo verdadeiramente e com suficiente força, acaba-se por consegui-lo sempre.” (Demian, Hermann Hesse, p. 112)

quarta-feira, 27 de julho de 2016

História dos Treze, de Honoré de Balzac #2


A particularidade dos gostos de cada indivíduo chega por vezes a ser surpreendente. Penso nisso, principalmente, ao observar o que as pessoas leem, o que mostram estarem lendo, o que comentam. O que é mais divulgado, o que ganha valor. Não é novidade alguma que os livros mais divulgados e compartilhados via redes sociais são livros contemporâneos e em sua maioria livros de fáceis leituras. Começa-se a reparar numa espécie de padrão; uma espécie de gostos e níveis de leitura – as pessoas estão lendo o que as agradam ou o que a divulgação lhes expõe? –, e o ponto que me chama a atenção é reparar e questionar-me como essas leituras são. Será que as pessoas realmente gostam do que leem? Será que não? Como será a criticidade desses indivíduos? O que os agrada? É inútil pensar nisso principalmente devido a toda a subjetividade que há no mundo; tudo é relativo. Só posso afirmar quanto a minha própria opinião.
Lendo A duquesa de Langeais – a segunda história do livro História dos Treze –, peguei-me pensando que, se esta fosse uma história escrita nos dias de hoje, pelos escritores de hoje em dia, eu muito provavelmente reviraria os olhos e detestaria, talvez até expusesse o quanto detesto “romances”, essa exposição tão exagerada que fazem de casais que tem de tudo no decorrer da história para jamais ficarem juntos, mas que tende a ser a história que imaginas o final feliz dos contos de fadas. Além de ter a certeza – eu posso estar equivocada, justamente por não ler este tipo de histórias – de que a narrativa seria tão simples que me desanimaria. “Ei, espera, mas Balzac não tem uma linguagem simples?”, poderias me questionar. E eu respondo com a maior convicção que, sim!, Balzac possui uma linguagem simples, fluída, para resumir, uma narrativa encantadora. A escrita, o desenvolvimento do livro de Balzac me cativou de uma forma impressionante. Acredito que a única forma de eu gostar de ler histórias românticas é por meio de narrativas balzaquianas ou como as de Jane Austen – apesar de só ter lido Emma até agora. Foi curioso reparar na espécie de aversão que senti ao imaginar A duquesa de Langeais numa escrita mais objetiva e sem as contextualizações tão cativantes de Balzac.
Embora a escrita de Balzac seja simples, não posso desconsiderar que possa ser um tanto exaustiva a quem não se encanta com reflexões, pensamentos e contextualizações de páginas e páginas para chegar ao que se quer falar – sim, ao ponto de em dado capítulo haver dez páginas até se alcançar o momento em que conhecemos, de fato, a personagem principal. Num exemplo para que essa “contextualização” fique mais clara, pensamos na seguinte situação: uma professora exige a leitura de dado livro, não comenta nada sobre ele, de modo que o leitor acabe chegando ao livro como se caísse ali de paraquedas; numa contextualização, a professora, antes de pedir a leitura do livro, faria uma espécie de introdução à temática, suponhamos que seja para a leitura de A Máquina do Tempo, de H. G. Wells, questionando aos estudantes o que sabem/pensam sobre viagens no tempo, que histórias ouviram/leram sobre isso. Essa pequena introdução poderia ser seguida pela informação de que há um livro que é o primeiro relato escrito que se tem conhecimento em que uma máquina era utilizada para viagens no tempo, e que esse livro é o que se pedira a leitura. Há diferença? Claro que muitas outras motivações/contextualizações poderiam ser muito melhores. É só um exemplo – e tanto se pode falar sobre motivação de leitura e contextualizações... –, que espero ter sido frutífero.
O que fiz agora não será talvez uma contextualização à história que li?

“Quando Balzac decidiu unificar a sua obra num grande conjunto intitulado A comédia humana, estes três livros, entre outros, foram colocados na série Cenas da vida parisiense. E de fato, nos três, Paris é um personagem dominante. Por meio de poderosas descrições das vielas, monumentos, mansões, palácios, Paris desfila diante do leitor com todo o seu mistério e sua grandeza, em descrições memoráveis que imortalizaram a cidade e impulsionaram o mito de Paris como a grande cidade do Ocidente diante dos leitores de todo o mundo.” (BALZAC, 2009, p. 185, introdução de Ivan Pinheiro Machado).

Assim como em Ferragus, embora não tão perceptível, em A duquesa de Langeais há a presença dos Treze Devoradores, grupo secreto de treze homens que fazem de tudo para se ajudarem, seja isso algo dentro ou fora das leis. Isso nos aparece mediante o sr. de Montriveau, um dos protagonistas do romance. A história, embora envolva diversos personagens – alguns participantes de outras histórias de A comédia humana –, poderia se resumir nas relações que se estabelecem entre dois personagens: o Armand Montriveau e a duquesa de Langeais, que dá título ao romance. Na introdução, tem-se a informação de que há, nessa história, algo de biográfico, um romance não correspondido de Balzac que lhe serviu de “inspiração” para a história – mas, por não me sentir apta a comentar a respeito, fica a sugestão de se pesquisar mais sobre isso.


O romance começa por seu final, ou melhor, seu quase final. De modo que sabemos, logo ao início, que Montriveau demonstra ter um grande amor pela duquesa, a ponto de ter ido atrás dela por quase todo o mundo, até encontrá-la num convento. Após esse encontro entre os dois é que, no segundo e terceiro capítulo – pois a história no todo só possui quatro capítulos, sendo o quarto à conclusão –, conhecemos quem são esses personagens, como eram suas vidas e o que passaram até chegar aquele encontro um tanto arrebatador. Acredito que podem ser feitas análises muito interessantes dos personagens e do desenvolvimento da história, que, por sinal, é fascinante, mas, aqui, me aterei a dois pontos – na verdade, a duas citações.

“Assim, a pureza de sua regra atraiu, dos pontos mais afastados da Europa, tristes mulheres cujas almas, despidas de todos os laços humanos, suspiravam por esse longo suicídio efetuado no seio de Deus.” (BALZAC, 2009, p. 189).

A citação acima se refere a um claustro, um convento, local descrito logo ao início do primeiro capítulo. Essa parte me chamou particularmente a atenção, tanto porque uma informação dessas não estaria ali à toa, quanto por seu teor, sua carga dramática de histórias que podem vir por trás disso. Nunca, até então, havia considerado o “recolhimento” de um indivíduo a um local sagrado como uma espécie de suicídio. Pelo meu texto de Os sofrimentos do jovem Werther imagino que ficou clara a minha atração por esses assuntos. Mas não o é, essa ida ao local afastado da sociedade, um ato de negar-se a si mesmo em favor de um outro? Que seja, nesse caso, a Deus? Essa recolha, essa extrema devoção a algo além de si mesmo, tende, por consequência, a negação de pensar em si mesmo, do egoísmo, do individualismo, do usufruto dos prazeres, do conhecimento... Da vida em sua liberdade. Não critico essa escolha, sequer sinto-me apta a apontar os motivos que levam a isso, o que resulta disso, o que há de positivo e negativo, enfim, tudo que se refere a essa escolha e essa fé. Apenas chamou-me a atenção pensar que refugiar-se na fé pode tanto ser um ato extremo de devoção quanto uma fuga de si mesmo, um suicídio.

“A igualdade será talvez um direito, mas nenhum poder humano saberá convertê-lo em fato.” (idem, p. 210).

Algo curioso é a forma com que questões importantes são colocadas de forma tão fluídas no texto que, numa leitura um pouco desatenta, pode-se chegar a não perceber os pontos que considero críticos, como a citação acima. Há um claro apontamento quanto à divisão social, e que, no fundo, remete à impossibilidade da existência do que chamamos de utopias – o que me lembra do livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Atualmente, tanto se discute sobre direitos iguais, sobre toda essa vontade e sede de que haja tratamentos igualitários, que, parece-me, ao ler esta frase de Balzac, que nós, humanos, ainda sonhamos, no fundo, por algo que se aproxime de uma utopia. Mas tememos a utopia, a rejeitamos vividamente, pois há o medo de que o eu seja apagado pelo nós, pelo coletivo, pela massa. Seria equivocado, então, pensar que se deseja a utopia em que se prevalece o desejo individual? E isso, por acaso, pode vir a existir?
No entanto, não é esta uma questão que a obra busca refletir sobre, apenas faz parte da contextualização, e, lendo-a, podemos parar e pensar. Talvez por isso eu demore tanto a ler...
Ademais, o romance é uma história mais romântica que política ou religiosa. É mais um elegante retrato de personagens parisienses. Um retrato também de personagens apaixonados, que veem na paixão – que se diferencia do amor – emoções arrebatadoras que os movem a ações impulsivas, a ponto mesmo de ignorar questões da sociedade, algo tão importante à época. É, por fim, um romance breve, com uma fluidez cativante, cuja leitura recomendo.
Não direi, contudo, que a considero uma história perfeita, afinal, apesar de todo o encanto que me causou, é um romance de época e poderia dizer, por exemplo, que muitos personagens importantes à história não são bem desenvolvidos, como o sr. Ronquerolles. Nesse ponto, porém, vem a importante informação de que, apesar de serem histórias individuais, muitas das reunidas em A comédia humana possuem personagens que se repetem, aparecem em mais de uma história, dado que se situam no mesmo universo, na mesma Paris, como é o caso da madame Sérizy, que aparece tanto em Ferragus quanto em A duquesa de Langeais. Resta afirmar que, embora a leitura não seja de todo encantadora para alguns, tenho de admitir que a história tem um desenvolvimento muito curioso no final do terceiro capítulo e no decorrer do quarto. Eu, particularmente, gostei bastante.


Pequena observação: a obra História dos Treze reúne três romances, em que cada um deles possui um tradutor diferente, sendo: William Lages (Ferragus); Paulo Neves (A duquesa de Langeais); e Ilana Heineberg (A menina dos olhos de ouro). Não sei se estaria certa em afirmar isso, mas pode-se notar diferenças na tradução da primeira e da segunda história, em que naquela se preferiu o uso de monsieur e nesta se preferiu a tradução para senhor. O que já demonstra a diferença de escolha dos tradutores. 

BALZAC, Honoré de. História dos Treze: Ferragus, A duquesa de Langeais, A menina dos olhos de ouro. Porto Alegre, RS: L&PM, 2009. 420 p. Apresentação e introdução de Ivan Pinheiro Machado; Tradução de William Lages, Paulo Neves e Ilana Heineberg. 

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Demian, de Hermann Hesse

“Hoje sei muito bem que nada na vida repugna tanto ao homem do que seguir pelo caminho que o conduz a si mesmo.” (HESSE, 2006, p. 62).

Quando penso em narrativas, refiro-me à forma como a história se desenvolve, ao modo como o autor escreve. Talvez seja errado nomear isso de narrativa, não sei ao certo. Mas é a isso que chamo de narrativa. Parto do princípio de que antes de uma boa história, o livro precisa de uma boa narrativa. Porque é por meio da narrativa que o leitor irá construir sua leitura, entrar ou não no universo ali criado. É por ela que nos sentimos atraídos ou não pela história. Além de ser a narrativa um dos elementos utilizados para se definir se um livro é difícil ou não. Se há uma linguagem rebuscada, se é muito simples ou, talvez, incompreensível. Para mim, é parte essencial da obra, principalmente porque tenho apreço por livros que nos fazem pensar, que conseguem nos prender nos pensamentos do personagem, em suas reflexões, sejam elas sobre coisas banais ou de tanta complexidade que há a necessidade de uma releitura para o seu entendimento. Claro que há, aqui, o meu gosto por narrativas, há quem prefira textos objetivos e deteste enrolações e descrições. No entanto, gosto de pensar que são essas narrativas mais elaboradas que conseguem passar o quanto a linguagem consegue ser maravilhosa e encantadora. Um dos motivos de eu evitar alguns livros contemporâneos, afinal, é justamente esse; a narrativa tão objetiva e por vezes fraca – Celeuma? Talvez... Bom, claro que entram outras questões para esse estilo narrativo, o público, a temática, a bagagem literária... O comércio... Acho que me entenderam.
É por esse ponto que quero apresentar Demian, do escritor Hermann Hesse (1877-1962). A leitura da obra é incrível, tanto pela história, quanto, e principalmente por isso, pela narrativa de Herman Hesse. Já havia lido O lobo da estepe, e havia me encantado com a narrativa também, mas acho que a achei ainda melhor em Demian. Não é uma leitura que se diga difícil pela escrita, talvez seja difícil se buscarmos entender tudo que ali está escrito – e que vamos acrescentando ao ler –, pois no decorrer da obra parece que há um aumento na densidade de conteúdo apresentado. É um livro encantador e que, talvez por ser um bildungsroman, nos mostra a vida de Emil Sinclair desde sua infância, passando pela juventude e seu auge, que, pelo que entendi, é entre os dezoito e vinte anos. Ademais, não acho que teria capacidade para comentar com qualidade esse livro, pois muitas das questões ali apresentadas me parecem longe de minha compreensão. De modo que talvez percebam que minha visão da obra pode ser um tanto superficial demais. Ao mesmo tempo em que poderia deixar de comentá-lo, sinto que preciso apresentá-lo e mesmo conversar sobre essa excelente obra.

O livro, pelo que pode ser entendido pelo prefácio, é um pouco autobiográfico, mas todo livro não o é? Um dos “elementos”, não sei como definir isso, ou, talvez, uma das questões que o livro abarca, é a divisão entre o mundo luminoso, bom e puro e o mundo obscuro. Essa divisão, de início, parece-me bem fácil de delimitar, a leitura nos mostra uma divisão aparentemente bem clara, ao passo que parece ir se tornando mais densa conforme paramos para pensar. Para mim, essa foi uma temática parecida com a que abordei numa aula de estágio no Ensino Médio neste primeiro semestre de 2016, de modo que quando a questão começou a se ampliar, eu já retomei o que havia pensado anteriormente. O que eu quero dizer com isso?
Bem, pensemos que o bom seja o lado que nos leva a Deus – independente de acreditar ou não nisso, pensemos como o livro nos traz (ou mais ou menos nos traz, já que falo a partir da minha visão do livro) –, e o lado ruim, mal, o lado que nos leva ao Diabo. É um confronto entre luz e trevas, como se a separação fosse assim, óbvia e bem delimitada. Mas acredito que todos sabemos que não se pode responder dessa forma, tão simplesmente. Não existe pessoa perfeita, de modo que todos passamos tanto pela luz quanto pelas trevas. Na verdade, somos uma união desses dois lados, uma junção que nem sempre é clara e nítida. Até porque definir bom e mal partiria para o que é certo e errado, ao mesmo tempo em que isso depende de quais valores morais etc. estão a nós dispostos, e aos quais seguimos. Bem, desse ponto em diante não tenho capacidade de comentar muito, mas fica então a reflexão a vocês.

Afinal, e quanto à história?
Apesar de o título ser Demian, e Max Demian ser de fato um dos personagens principais da história, o narrador e protagonista é Emil Sinclair, um rapaz cuja família é religiosa e considerada por ele como pura, fonte e parte do mundo de luz. No primeiro capítulo, principalmente, vemos essa divisão dos dois mundos e como Sinclair fica transitando entre eles e pensando sobre isso. Era algo muitíssimo importante a ele, além de ser uma questão que o guiara por toda a trajetória de sua vida – a que temos conhecimento, pelo menos. O primeiro conflito da obra – se é que posso chamá-lo assim – dá-se na infância de Sinclair, em que ele se encontra na passagem entre os dois mundos.

“Pela primeira vez saboreei a morte. Tinha um gosto amargo. Pois a morte é nascimento, é angústia e medo ante uma renovação aterradora.” (p. 32).

As questões, um tanto existenciais, começam desde o início, em sua tenra idade, dando conversa com temas não tão leves, como a morte. Mas não a morte no que recorrentemente associamos como a morte física, mas a morte de parte de si, morte do que se até então considerava como seus valores morais etc. Morte de quem fomos e nascimento de quem estamos nos tornando a ser. Ademais, não é isso algo que, de um modo ou de outro, sendo em maior ou menor grau, pelo qual passamos em nossas vidas, uma ou outra vez? A passagem de uma fase à outra, a mudança de quem somos, o crescimento e conhecimento de si próprio...
Enfim, é a partir e depois desse primeiro conflito que Demian passará a exercer uma influência surpreendente em Sinclair. Max Demian surge como um novo aluno, sendo diferente, uma pessoa cuja idade não parece ser bem definida, um indivíduo desgarrado da sociedade por vontade própria, mas que nem por isso se considera de certo modo superior. Porque eis que o próprio orgulho é um problema. Mas essa é só uma visão superficial. É Demian quem irá ver em Sinclair a característica que permeia alguns indivíduos da sociedade, além de mostrar que o rapaz pensa mais do que é capaz de expor ao mundo.

“Vejo que pensas mais do que podes exprimir. Mas vejo também que nunca viveste completamente aquilo que pensas, e isso não é bom. Somente as ideias que vivemos é que têm valor.” (p. 80).

Mesmo podendo fugir um pouco do que se está falando no livro, parece-me que podemos associar com nossa sociedade atual, pensar, com essa parte isoladamente, nos indivíduos que pensam muito e o refletem, mas não o mostram. (E voltamos à questão das aparências engarem?). Pode-se pensar, também, num excesso de teoria que não faz sentido sem a prática – e vemos bastante isso quando estudamos licenciatura, porque é um debate feito devido sua imensa importância na formação do sujeito. No entanto, convém mencionar para que não se caía no ledo engano de pender mais para um lado do que para o outro, pois ambas, teoria e prática, são essenciais para um conhecimento significativo e produtivo.

“- [...] A maioria das pessoas vive também em sonhos, mas não nos próprios, e aí é que está a diferença.- Sim, é bem possível – murmurou. – Talvez o importante seja apenas saber em que sonhos vivemos...” (p. 135).

Outro ponto que considero importante comentar, mesmo que brevemente, é que o livro não é só sobre a formação e desenvolvimento de Sinclair, pois parece ir além disso, envolvendo o mundo que o cerca, sendo este, também, o nosso. Não está nosso próprio desenvolvimento num contato constante com o mundo, e sendo da vivência com ele que criamos e moldamo-nos? E eis que a sociedade entra nesse círculo, pois é com ela que convivemos, seja direta ou indiretamente, pois sempre há o risco da socialização vir a ser inevitável – e quantas pessoas já não se deixaram levar por grupos que lhes levaram a caminhos inadequados? Acompanhando o desenvolvimento de Sinclair, vemos ambos os lados, ambos os mundos, e uma busca infindável por aquilo que mais lhe apraz.
Ademais, tenho de comentar que a edição que li possui alguns errinhos, algumas frases que poderiam possuir umas modificaçõezinhas para tornar mais compreensível, coisas que imagino serem da tradução e/ou revisão, mas que também acho que devem ter sido arrumadas na última edição. Ou assim espero. Aliás, como podem ter reparado na foto acima, está escrito, na capa, "venda proibida", pois bem, explico-lhes que peguei o livro emprestado de uma escola estadual de Içara; é mais ou menos a mesma situação do livro de Balzac, disponibilizado à escola pelo Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE). Por sorte, encontrei-o lá este mês (<3), digo isso pelo fato de que Demian  foi a leitura escolhida do mês de julho para o Clube do Livro que participo. Depois de já estar com o livro em mãos, encontrei-o numa livraria, com a capa amarela bonitinha, que pode ser vista abaixo – não é difícil encontrar esse livro –, e quis comprá-lo, pois desde que li a resenha do blog O epitáfio – aliás, recomendo que leiam a resenha dele – fiquei encantada com a capa, mas, graças à pessoa da minha irmã, comprei outro livro no lugar (O gigante enterrado~ *-* Conhecem? Parece muito bom!). Pois bem, gostaria de poder comentar a capa, mas talvez isso pudesse ser spoiler e tirar um pouco da graça da leitura. Basta dizer que o desenrolar da metade em diante, embora um pouco mais denso, talvez, é surpreendente.


As imagens das capas eu retirei do Skoob. Reparem na grande diferença que há de uma capa a outra. Particularmente adorei a primeira da fileira de baixo, do lado esquerdo.

Enfim, espero que tenha sido uma visão não muito distante da obra, e que tenha conseguido demonstrar que, apesar de conter muitas coisas, é uma leitura que vale muito a pena. Resta apenas pensar, é Demian um ouriço? Fiquei meio na dúvida; embora a capa me gerou curiosidade, pois não me fazia sentido, e comparando-a com outras fez menos sentido ainda, ela está tão relacionada à história que é difícil comentar (aliás, eu achava que era uma fênix, mas, pelo que entendi, é um gavião). Então, por essa visão, não, não é, pois embora a capa não reflita toda a grandeza da obra, reflete grande essência dela – é difícil uma capa fechar inteiramente com a obra, não? Contudo, se analisarmos ser de um autor um pouco desconhecido, geralmente associado a esse amontoado de questões que traz, de certo onirismo, com a possível crítica e tudo o mais... Além de capas que podem não atrair novos leitores... Bom, nesse caso eu consideraria um ouriço. Mas deixarei a decisão desse em aberto. Leiam e digam-me suas opiniões. =)

HESSE, Hermann. Demian. 37. ed. Rio de Janeiro: Record. 2006. Tradução e prefácio de Ivo Barroso. 188 p.