quarta-feira, 13 de junho de 2018

The Old Man of the Moon, de Shen Fu


"All the thing are like spring dreams, passing with no trace." (p. 1) [1]

Não parece fazer muito sentido tecer um comentário sobre uma obra em inglês que, até onde sei, não possui tradução em português. Muito menos considerando ser essa obra em questão tão curta, nem 60 páginas, e tão, aparentemente, "sem sal". Por outro lado, talvez faça sentido deixar registrada a possibilidade de conhecer mais sobre obras que não temos acesso. Conhecemos muitas obras sem sequer lê-las, não porque não há em português, mas por mil e um outros motivos. Seja falta de tempo, seja falta de interesse pela obra. Não parece tão errado, pensando nisso, comentar em português sobre algo em inglês...

The Old Man of the Moon é exatamente um desses livros que parecem não ter graça nenhuma. Não possui ação, nenhum evento chocante, nenhuma história tão trágica ou personagens que tenham passados por inúmeras dificuldades. Essa é uma história de um homem e de sua paixão profunda por sua esposa; é também a história do casamento deles. Nessas poucas páginas, ficamos sabendo de como eles se conheceram, como era o relacionamento deles, descobrimos que eles tiveram filhos - isso na verdade achei surpreendente, porque do nada o narrador menciona dois filhos, um deles perto dos 12 ou 14 anos! - e que ela tentou arranjar uma concubina para ele. Dizer mais que isso é um spoiler de uma história tão curta.

Quanto ao título, que traduzo mais ou menos por "O velho da lua", é uma referência a um espírito apreciado por unir pessoas. O casal protagonista, que, aliás, adora conversas sobre literatura, poesia e afins, faz adorações ao tal espírito, tanto agradecendo por estarem juntos quanto por pedir para que possam estar juntos numa próxima vida. O curioso é que o autor fala da felicidade deles, mas também não deseja o mesmo para ninguém. Porque, apesar de o personagem ter sido feliz, ele também sofreu bastante (spoilers).

"People say that marriages are arranged by the 'Old Man of the Moon'", said Yun. "He has already pulled us together in this life, and in the next life we will have to depend on him too." (p. 25) [2]

No fim, parece que a mensagem é para que busquemos uma felicidade que não dependa plenamente dos outros. E embora possa parecer estranho se pensar que a história em si é sobre um casal apaixonado, faz sentido se pararmos para pensar na reflexão que o autor nos propõe. Será que tomamos responsabilidade e agimos por nossa própria felicidade? Ou será que deixamos os sentimentos nos levarem e nos arrebentar por meio de paixões com finais infelizes? "Onde" deixamos nossa felicidade? 

Pode não ser bem o que ele quis dizer (estava em inglês e é uma interpretação pessoal), mas não deixou de me fazer pensar a respeito. 

Quanto à obra, resta dizer que ela passa há séculos atrás (foi escrita em 1809), numa época em que as mulheres ainda não tinham permissão para muitas coisas do dia a dia. Não podiam fazer parte de todo dever social (como reuniões), viajar, ir aonde quisessem etc. Então ler essa obra nos dias de hoje é também uma forma de lembrar que os tempos mudam, conceitos, valores e pensamentos que parecem enraizados podem gradualmente ser alterados. Mesmo que pareça que nada mude, às vezes pode ser tão sutil que só notamos quando a mudança já percorreu quilômetros; afinal, é aquela ideia: nunca nos banhamos no mesmo rio duas vezes (Heráclito, né?).

Por fim, tenho que dizer que meu "nível" de leitura em inglês ainda não é grande coisa; tive bastante dificuldade lendo a obra, mesmo sendo curtinha e tendo, aparentemente, uma linguagem mais simples (ao menos comparado com outro livro que "tentei" ler). Não posso dizer que amei a obra, mas sem dúvida me fez refletir um bocado. Em tempos de poucas leituras, a considerei extremamente válida. 

"I could never give a complete list of all the talented writers there have been. 
Besides, which one you like depends upon which one you feel in sympathy with." (p. 10) [3]


FU, Shen. The old man of the moon. Translated by Leonard Pratt e Chiang Su-hui. UK: Penguin Classics, 2015. 60 p. 

Minhas meras tentativas de tradução das citações acima:
[1] "Todas as coisas são como sonhos primaveris, que passam sem deixar rastro."
[2] "As pessoas dizem que os casamentos são arranjados pelo 'Velho da Lua'", disse Yun. "Ele já nos juntou nesta vida, e na próxima vida nós teremos que depender dele também."
[3] "Eu nunca poderia dar uma lista completa de todos os escritores talentosos que existem. E também, de qual você vai gostar depende de com qual você sente simpatia."

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