Que livros
mudam nossa vida parece algo tão óbvio ou comentado que soa um pouco repetitivo
e chato falar a respeito. Contudo, estive pensando sobre isso e, considerando
também o momento em que estou – há quase um mês sem concluir leitura de ficção
alguma – resolvi compartilhar a minha visão disso. Posso me equivocar, claro, e
peço que gentilmente conversem sobre isso comigo, se for o caso. Não é aqui
também um espaço de conversa? Também por isso pensei que, já que não tenho
livros lidos recentemente para comentar – incrivelmente ainda não fiz a resenha
de Crime e Castigo, e talvez nem a
faça –, comentarei sobre eles. E se me perguntarem “por que resolveu falar
disso agora?”, a resposta é simples: num momento meio triste, eis que uma moça-de-cabelos-curtos
vem me devolver um livro que eu havia emprestado a ela. A tal obra é o incrível
Caçando Carneiros, um dos que usei de base para o título do blog. Ela talvez
não tenha notado, mas ter conversado comigo sobre essa obra sensacional e
coisas afins me deu um ânimo fofo. Esse mesmo ânimo, horas após, é o que me faz
querer demonstrar que ler é mais do que um ato solitário; é uma ação que pode
ser compartilhada, discutida e alegremente
mudar vidas.
Antes disso,
queria comentar que talvez seja um preconceito comum de que pessoal de Letras
lê muito. Pode até ser verdade quanto a ler bastantes teóricos, apenas. A
leitura de livros ficcionais e de Literatura mesmo costuma ser meio renegada ou
até feita apenas quando é obrigação do curso – felizmente, encontrei pessoas
muito queridas, a Julya e a Helena do Leituras & Gatices, e a Tainan do Eu Curto Literatura, por exemplo, que leem bastante. Elas sabem o quanto ler é bom
e é por isso também que têm seus blogs e compartilham esse mundo maravilhoso. É
também por isso que eu, recentemente, criei este blog. Mas... O que isso tem a
ver? Bem, pensem comigo: se em Letras, no curso em que mais se espera encontrar
bons leitores, não é tão fácil encontrá-los, me pergunto quanto aos outros
ambientes. Não digo que não tenham, não me interpretem mal. É só um ponto
curioso; afinal, meu conhecimento de clássicos veio em sua grande maioria do
meu contato com esses autores no curso ou em conversas – onde esses nomes de
peso não são ditos no ambiente pesado da escola, em que qualquer autor antigo é
visto como “leitura obrigatória para vestibulares” ou coisa do tipo –, onde a
leitura é feita, boa parte das vezes, por interesse, por gosto, por
prazer.
Há tanto ramo
se espalhando que poderia usar e discorrer para diferentes partes dessa
conversa, mas tentarei focar no que me trouxe a compartilhar isso: a felicidade
de uma conversa sobre livros. Fica claro que ler livros é sim uma ação
solitária, no aspecto físico disso. É apenas você e o livro. Muitas pessoas
param por aí, porque não tem com quem conversar sobre o que leu, seja por falta
de conhecidos que leem ou que tenham o mesmo gosto literário. E isso em nenhum
momento diminui a grandiosidade que é ler. Apenas talvez deixem de ter um
adicional; que é poder trocar ideias sobre o que leu. E poder se animar com os
livros quando não estás lendo coisa alguma, por qualquer motivo que seja, como
eu estou agora. Porque um livro lido pode ser comentado muito tempo depois –
claro que escrever uma resenha é diferente. Apesar dos detalhes fugirem da
memória, fica uma impressão maior que a obra deixou. Como ficou para
mim a melancolia e o drama do Murakami. Como ficou a leveza e o drama de A elegância do ouriço. Não sei se isso
fica claro, mas espero que tenham me entendido sobre essa “impressão”. Essa
sensação de algo, uma leitura ou mesmo um acontecimento na vida, que aconteceu
há algum tempo, mas que ao lembrar nos traz alguma sensação diferente. Seja ela
de algo bom ou de algo ruim.
Disseram uma
vez, numa das aulas do curso de Letras que faço, não lembro em que disciplina, ou
mesmo quem disse, mas que a pessoa sinta-se aqui citada, que a Literatura serve
para nos colocar no lugar do outro. É nos colocando nesse outro espaço, nessa
outra vivência, com o drama e vida alheios, que aprendemos mais sobre o mundo e
sobre nós mesmos. A comparação, a análise, mesmo que inconsciente, é o que vai,
aos poucos, nos mudando; mostrando-nos que há toda uma outra perspectiva. É
lendo sobre um mundo pós-apocalíptico, ou de uma época muito antiga, que
percebemos o quanto a tecnologia nos proporciona conforto, comodidade e acesso
a informações tão diversas. Tudo isso pode ser notado sozinho, talvez, mas, a
meu ver, é com a visão do outro, seja a leitura ou com a conversa, ou mesmo com
a leitura de textos alheios na internet, que nos tornamos pessoas melhores. Que
aprendemos tanto a melhorar a nós mesmos quanto a ajudar aos outros – aqui digo,
principalmente, a ser uma pessoa mais educada, menos irritadiça etc. –;
aprendemos, também, que o mundo pode ser bem ruinzinho. Principalmente, eu
diria, que há os dois lados da história – quem sabe até um terceiro lado.
Enfim, geralmente,
é com essas conversas – ou mesmo aquela conversa individual em que se pode pensar
sobre o livro – que percebo se a obra é boa ou não, se a leitura é
significativa. Se ela me muda, mesmo que um pouco. Ou se não muda, se ela
consegue mexer comigo. Se me tira do local inicial de onde estava. Por exemplo,
lendo História dos Treze, do Balzac,
eu parei e pensei o quanto a contextualização é algo impressionante e que, às
vezes, é deixado de lado. Depois dessa leitura, eu presto mais atenção a isso.
Depois de ler Crime e Castigo, eu
passei a ver que há outra visão dos criminosos e perceber, aquele meio óbvio
que só notamos depois que lemos, que no crime há a importante parte do “peso na
consciência”. Com as leituras de Murakami eu percebi que finais inconclusos e
histórias simples são melhores do que
aparentam, desde que o escritor saiba lidar com isso. Entre outras coisas se eu
for parar para pensar. Com isso, queria deixar um questionamento, e sintam-se
livres a comentar caso queiram: já leram alguma obra que mostrou a vocês uma
visão diferente, que os tirou do seu espacinho aconchegante?
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